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domingo, 6 de julho de 2014

INICIO DE UMA NOVA FASE

Ontem foi o dia de começar um ciclo novo, nem por isso isento de dor. 
Visitando o apartamento vazio de minha tia querida, recentemente falecida (tinha 95 anos), percebi que perdi meu último laço de sangue mais velho que eu. 

E agora? Para quem vou perguntar as coisas nunca perguntadas? Com quem vou tomar o cafezinho da tarde com pão fresco comprado na padaria próxima ao seu apartamento? Quem vai me receber com os braços abertos e um sorriso no rosto? Quem vai conversar comigo sobre a vida, esta pessoa que apesar de viver com o mínimo de dinheiro, nunca se queixou de nada? Convivia com ela numa relação muito estreita, principalmente depois que minha mãe morreu, e passei a dedicar à minha tia a atenção e cuidados que me eram possíveis. Ela me chamava de Soninha. A única pessoa que me chamava dessa forma. Além de sobrinha sou afilhada de batismo dessa pessoa encantadora, cuja única queixa era desejar engordar um pouquinho. E eu dizia: "titia, mas você come tão devagar que o seu cérebro sinaliza que já está satisfeito depois de algumas garfadas". Nunca passou de 40 quilos. Morreu com 35kg. 

Quando entrei com meu filho em seu apartamento, na intenção de começar a separar as coisas dela, filtrar o que vai ser doado, o que vai ficar para a família e o que vai ser descartado, senti que não ia conseguir fazer nada disso. 

Fui tomada de uma emoção forte, pois ao abrir a porta estava acostumada à presença dela sempre sorridente para mim. Caí no choro. Meu filho, que pouco conviveu com ela foi aos poucos sendo tomado por um choro discreto e até pensei que estava com os olhos lacrimejando pelo cheiro da naftalina que ela sempre usou para conservar suas coisas. Era cuidadosa ao extremo com tudo o que tinha. As toalhinhas de crochê que fazia, sempre impecáveis, as revistas sobre costura, tricô e crochê, moldes do tempo em que ainda costurava roupinhas de bebê... Perguntei se o problema era a naftalina. Ele disse que não, estava emocionado. Dava para sentir que minha tia estava conosco ontem. Ouvi dizer que nos primeiros dias após a morte o espírito das pessoas ainda habita o ambiente em que moravam. E ela morou naquele apartamento 46 anos. 

Terei que passar uma semana lá, a ver se consigo desempenhar a tarefa que me coube. Peço desde já a proteção divina, para que consiga fazer tudo da melhor forma possível.

Trouxe duas plantas que estavam nos fundos do prédio ao Deus dará. Já estou cuidando delas como minha tia fazia. Eram as filhas que nunca teve.

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