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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A Nostalgia da Cidade Natal



(foto de minha autoria)



Quem sempre viveu na cidade onde nasceu não sabe o que é isso. É uma dor com sabor de lichia, de licor de folha de figo, desses sabores doces um pouco exóticos, experimentados poucas vezes. 

Houve um tempo em que passei a sentir amor/ódio pela cidade onde nasci. Foi o tempo em que não conseguia me libertar das provações pelas quais passava e vivi nos 23 anos em que lá morei. Durante essa época mal podia administrar o que me ia na alma. As coisas aconteciam num ritmo rápido demais para metabolizar perdas e ganhos. Aliás, as perdas eram muito grandes, provocando impacto maior do que minha alma de adolescente e jovem podia suportar. Acabei por fugir da minha cidade, confundindo um destino determinado com a impossibilidade de enxergar que as pessoas não me queriam mal. Era preciso apenas coragem de enfrentar a avalanche de golpes que sofri.

Como dizia, fugi, dando a mim mesma a desculpa de que precisava buscar em outros lugares a oportunidade profissional que almejava naquela época. Em minha cidade natal não havia mercado para a profissão escolhida, ou era muito restrito a poucas privilegiadas: as que conseguiam ocupar vagas por causa de seu QI (quem indicou) ou que eram aparentadas de algum executivo bem sucedido. No meu caso o sucesso vinha da raça, mesmo. Era passar no teste escrito, no teste psicológico, na entrevista e contar com a empatia do gerente de RH. Cheguei a pensar que havia algo errado comigo. Só fui descobrir que isso era pura cisma quando, ao deixar um emprego eu me dava o luxo de uns 5 dias de férias até iniciar em outro (felizmente havia grande disponibilidade para moças que dominavam o Inglês na época e poucas candidatas qualificadas). 

E assim me afastei de minha cidade Natal e fui vivendo outras experiências; mas ficou um sentimento de traição de minha parte. Traí a quem me abrigou por 23 anos. Então não tinha mais o direito (moral) a voltar para o lugar que um dia descartei.

Hoje, mais de 40 anos depois, sinto que a minha cidade mostrou com toda sua força o que perdi. Mostrou-me que não se deve abandonar uma luta no meio do caminho, seja por falta de forças para resistir ou qualquer outro motivo. Há que se morrer lutando no local onde nascemos. Paguei um preço muito alto por isso.

No entanto, consegui o milagre de sentir-me novamente acolhida em minha cidade. Estamos quites. Ela tem se desdobrado em abrir seus braços generosos e mostrar-me o quanto sou amada e como estava enganada ao partir de lá um dia. 

Só que agora terei de me aconchegar em seus braços sabendo que já não sou sua criança querida, mas alguém que aprendeu a desistir do colo e partir para ver em cada ser humano um irmão que sofre e luta por um lugar ao sol. 

A vivência em minhas viagens à terra natal é melhor do que esperava há tempos idos. Tenho entrado na frequência da harmonia, paz e interatividade com as pessoas. É meu dever aceitar que nada pode ser como antes, (*Como Uma Onda, do Lulu Santos) mas pode ser mais forte. Pode ser algo sem a dúvida do amor/ódio. Pode e está sendo a vivência, mesmo que breve, do amor incondicional pelos seres que cruzam meu caminho.

*Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará

A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito

Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo

Não adianta fugir
Nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar

Nada do que foi será
De novo do jeito
Que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará

A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito

Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo

Não adianta fugir
Nem mentir pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre

Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar



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